ARABESQUE

ARABESQUE
Em passos de arabesque escrevo

27.2.11




ciumes

colho a vida com as mãos para o alto

não pertenço a ninguém

sou minha, movimento e dança



no espaço, ao sabor do vento

fugindo às obsessões dos ciúmes

quartos escuros nas lembranças



sou viajante das estrelas

pelas ternuras e imensidões da paixão

sou canção


©Jade Dantas

26.2.11





contenção



rasgar as palavras

que não te escrevi



contidas sufocam

dançando silenciosas

à minha volta


©Jade Dantas
TEMOS VAGAS


Na entrada do estabelecimento uma placa: “TEMOS VAGA para o silêncio”.
A colocação me levou a refletir sobre quais as vagas que dispomos no nosso país. Neste caso, o silêncio adquire novos significados.
Não precisamos do silêncio covarde, que grita de ressentimentos, desinteresse, bloqueios. O silêncio carregado de amargura, tensões e desespero. O silêncio desesperançado que diz – No Brasil é assim mesmo, não adianta falar.
Não temos vaga para o silêncio inerte e alheio, amordaçado pela certeza de que não adianta nenhuma reivindicação..
Dispomos muitas vagas para a palavra que fala o diálogo da reconstituição. Vagas para a voz que grita contra a impunidade, contra a absolvição criminosa.
Vagas para as vozes que se erguem, bem alto, vindas de todo o país, pelos direitos humanos, covardemente violentados pelas autoridades, até por aqueles pagos para nos proteger. E não precisamos ir longe, basta abrir o jornal de hoje – “Policiais acusados de tentativa de abuso sexual – três adolescentes espancados e chamados a fazer sexo oral em PMS” – Jornal do Comércio, 12 de fevereiro de 2011, Recife.
Mais à frente, no mesmo jornal – “Câmeras flagram PMS espancando adolescente, por ter supostamente se recusado a parar no trânsito, em Feira de Santana – BA”.
Diariamente os abusos multiplicam-se pelos noticiários de todo o país. E quantos terão acontecido sem que tenham sido divulgados?
Numa escala maior a impunidade também se multiplica por todas as esferas. Punidos apenas os crimes menores, que não envolvem autoridades e interesses.
Então me sinto na obrigação de incluir nesta crônica um justo apelo que me chegou pela internet, mesmo omitindo o autor:
“Sou professor de Física, de ensino médio, de uma escola pública em cidade do interior da Bahia e gostaria de expor o meu salário bruto mensal: R$650,00. E saibam que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior e recebem minguados R$440,00.
Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar? Não pretendendo generalizar, afinal ainda existem bons professores lecionando, porém, atualmente, a regra é esta - O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado.
Sinceramente, leciono porque sou um idealista e vejo a profissão como um trabalho social.
Entretanto, nesta semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro.
Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano. São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545.
Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões, na França, pouco mais de R$2,8 milhões, na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$850 mil e na vizinha Argentina R$1,3 milhões.
Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior.
Diante dos fatos, gostaria muito que fosse iniciada uma campanha nacional, na qual o lema seria – “TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES.”
TEMOS VAGA – muitas, para a honestidade, a honradez, a dignidade.
Temos vagas para professores com salários dignos, vagas para bons hospitais públicos, para o compromisso com a saúde, a segurança e o resgate dos valores morais.
Inúmeras vagas para políticos comprometidos com o respeito ao país que deixaremos aos nossos filhos.

©Jade Dantas
PALAVRAS INÉDITAS


Não é fácil escrever fazendo malabarismos, coagidos pela superficialidade pretendida.
São as metáforas que escalam essas barreiras.
Não é nada fácil caminhar corajosamente, margeando paixões e desesperos, sem pisar em nebulosas e cair nas fendas abertas dos nossos próprios abismos..
Existem palavras transgressoras que nos elegem, brotam e nos assaltam onde nos encontrarmos. Seduzem os ouvidos e não foi por acaso que brotaram. As temos na mão, mas não lhes encontramos destino.
Podem nos mudar as idéias, desvendar nosso lado selvagem, quebrar nossos limites. Palavras esperando o tempo de emergir, de ser inteireza.
Algumas fingem se entregar mas são indomáveis. Nossa língua é um campo fértil, cada palavra é uma fonte de água pura.
Outras têm sabor, deslizam na boca, acalmam e são plenitude porque nos incitam a olhar para dentro. Trazem consigo o sabor dos domingos. A vida e a incógnita que a acompanha.
Porém são vorazes, devoram nossas verdades e buscas, evocam nossas vozes inauditas, insinuam, comprometidas apenas com nossos sentimentos, nossas fomes.
A poesia sabe de tudo isto.
Muitas permanecerão inéditas, jogos de luz e sombras, até o final de nossas vidas.
Definitivo apenas o milagre da escrita.

©Jade Dantas



frevo


quero você me tentando à luxúria
quero suas mãos me desvendando abismos

ânsia lavas fogos de artifício
você poesia em meu desejo de azul

você que me consegue enlouquecer
dançar um frevo com meus sentimentos

poesia em meu carnaval sem fuso horário
renitente, insondável, abismal


©Jade Dantas

Um doa poemas classificados para a Coletânea da Prefeitura do Recife - Biblioteca de Afogados.



BRUMAS


suavizando o tempo onde te quero
na incoerência dos gestos de penumbra

meu desejo inesgotável e insensato
delira nas brumas da tua ausência



©Jade Dantas