ADOLESCÊNCIA
Uma mesa comprida, absolutamente democrática, família, empregados
e visitantes, sempre muitos, todos ao mesmo tempo. Lembro disso, na casa da
minha avó, interior da Paraíba, alto da Serra do Jabre, onde nasceram os
membros da família paterna.
Adolescente, fui passar umas férias por lá. Garota da cidade
descobrindo as delícias do campo, festinhas com sanfoneiro, danças ao ar livre. Descobrindo
o Pedro.
Pedro - os olhos azuis mais belos que já vi. Tímido, baixando os
olhos ao falar. Trabalhava na enxada e me julgava uma doutora, porque estudava.
Ia vê-lo trabalhar. Tirava
a camisa, o peito bronzeado quase sem pelos.
Sonhava que estava apaixonado por mim que só pensava nele,
imaginando um grande drama contra as barreiras sociais.
Sentia seus olhares quando imaginava que eu não via. Surpreendia
seus olhos, intensos e ternos, a me dar a certeza que me faltava. Com ele
comecei a aprender de cimento, areia e construções que um dia me valeriam na
profissão de arquiteta. Estavam sempre construindo, na propriedade. Pátio,
quintal, galinheiro.
Aos poucos se soltou e trocamos palavras.
Massa para o muro assim que se faz cuidado menina vai se sujar o
milho já vai nascer a massa tem água demais não sei dançar lhe ensino Pedro.
Arrastado para as festinhas no quintal da minha avó, viu-me tomar
um vinho. Cuidado não está acostumada
nem eu me ensina mesmo a dançar com prazer Pedro.
Logo estava se soltando, ajudado pelo vinho. Ali ninguém ligava
que uma menina de 14 anos tomasse vinho. Todos bebiam, as crianças com água e
açúcar.
Quero subir a serra com você me ajuda Pedro
Subida íngreme. Caía, ele me ajudava, tomava minha mão de
arrepios. No alto, o Pico do Jabre, belíssima paisagem, ponto mais alto do
estado.
Você gosta de dançar gosto mas tenho vergonha você tem ritmo venha
comigo minha irmã vai casar haverá festa queria saber dançar aprender a tocar
instrumento toco piano desde criança Pedro mas aqui não tem senão lhe ensinava
Lições de dança, adolescência sem barreiras, liberdade. Apenas
algumas semanas, nenhum beijo, nada. Inesquecível.
©Jade Dantas
Há muitos Pedros inesquecíveis...
ResponderExcluirBeijos, Jade