ARABESQUE

ARABESQUE
Em passos de arabesque escrevo

31.5.12





epitáfio


quando ela vier me buscar
que seja rápido

árvore plantada
filhos criados

só deixarei por aqui
poemas sem validade

e cinzas espalhadas pelo mar
sem epitáfio


@Jade Dantas

29.5.12




vazio


silencio meu desejo da tua pele
te recriando em linguagem sem compasso

o meu desejo ancora no vazio
sem encontrar o abrigo dos teus braços

então escrevo poemas improváveis
porque a nave infatigável das palavras

inconformada desafia o meu silêncio 
na vazia escuridão dos solitários


©Jade Dantas 


27.5.12




feitiço



belo dia abriu as asas
afastou névoas da vida
e apoiou-se nas nuvens

pôs os olhos nas estrelas
ergueu-se em pontas de pés
o coração disparado

ergueu as mãos misturando
as ternuras do luar
e a transparência da luz  

entregou-se por inteiro
ao amor destino e vida
além de estrelas e abismos

chegou a névoa da noite
o amor de asas quebradas
silêncio de pedra e sal

foi salva pela poesia
e enfeitiçada ainda canta
poemas nas madrugadas



© Jade Dantas

25.5.12





jangada errante 




queria sair ao mar numa jangada errante
tocando meu violão na madrugada
interrogando à lua prateada

os segredos da noite delirante

mas a lua se esconde, já distante
e o sol da praia azul de céu e mar

não quer saber da pergunta atrapalhada
e vai brincar com o vento na enseada


talvez nem saiba a resposta que desejo
ou não queira responder com pejo
porque já não entende de sonhar

e este meu coração abandonado
nascedouro de medos e carências
fica ali, sem resposta, à beira-mar




@Jade Dantas




21.5.12





ampulheta


no tempo do presente
tão sem tempo onde vivemos
o futuro é o tempo do amanhã

resumido ao tempo do quem sabe
e os desejos estão no tempo de talvez
ser um quadro na parede do jamais


@Jade Dantas




20.5.12





abismal



temos saudades
do que não vivemos

assumimos lembranças
do reverso do que temos

resgatamos palavras que perdemos 
origem de repouso ou abismos

adoçamos  nossa sede
de todos os beijos

que não tivemos 
quase sem medo


@Jade Dantas

15.5.12

VORAGEM





voragem


meu vôo de palavras tem sempre o destino
dos teus olhos mesmo desviadas

guarda a certeza
de porto de chegada

se acontecer, toma-as de leve
ao encontro dos teus dedos

recolherão as asas e sossegarão
encantadas

te acariciarão
levando ainda em si
um pouco desta voragem


© Jade Dantas




Minha mãe aos 22 anos.

2.5.12




via láctea



viagem sem destino
insanidade

eternidade
e toda a via láctea

tudo serás enquanto fores
poesia e ardores


@Jade Dantas



1.5.12

ALTO MAR





alto mar

eram dias alados, altas ondas
alto mar, voos a céu aberto

sons de tempestade
bêbados de assombro e gozos
compondo sinfonias

que hoje se perdem e silenciam

tristes faunos fantasmas
nas sombras do passado

@Jade Dantas