ARABESQUE

ARABESQUE
Em passos de arabesque escrevo

29.8.12

ADOLESCÊNCIA






ADOLESCÊNCIA




Uma mesa comprida, absolutamente democrática, família, empregados e visitantes, sempre muitos, todos ao mesmo tempo. Lembro disso, na casa da minha avó, interior da Paraíba, alto da Serra do Jabre, onde nasceram os membros da família paterna.

Adolescente, fui passar umas férias por lá. Garota da cidade descobrindo as delícias do campo, festinhas com sanfoneiro, danças ao ar livre.  Descobrindo o Pedro.

Pedro - os olhos azuis mais belos que já vi. Tímido, baixando os olhos ao falar. Trabalhava na enxada e me julgava uma doutora, porque estudava.

Ia vê-lo trabalhar. Tirava a camisa, o peito bronzeado quase sem pelos.
Sonhava que estava apaixonado por mim que só pensava nele, imaginando um grande drama contra as barreiras sociais.

Sentia seus olhares quando imaginava que eu não via. Surpreendia seus olhos, intensos e ternos, a me dar a certeza que me faltava. Com ele comecei a aprender de cimento, areia e construções que um dia me valeriam na profissão de arquiteta. Estavam sempre construindo, na propriedade. Pátio, quintal, galinheiro.

Aos poucos se soltou e trocamos palavras.

Massa para o muro assim que se faz cuidado menina vai se sujar o milho já vai nascer a massa tem água demais não sei dançar lhe ensino Pedro.

Arrastado para as festinhas no quintal da minha avó, viu-me tomar um vinho.  Cuidado não está acostumada nem eu me ensina mesmo a dançar com prazer Pedro.

Logo estava se soltando, ajudado pelo vinho. Ali ninguém ligava que uma menina de 14 anos tomasse vinho. Todos bebiam, as crianças com água e açúcar.

Quero subir a serra com você me ajuda Pedro

Subida íngreme. Caía, ele me ajudava, tomava minha mão de arrepios. No alto, o Pico do Jabre, belíssima paisagem, ponto mais alto do estado.

Você gosta de dançar gosto mas tenho vergonha você tem ritmo venha comigo minha irmã vai casar haverá festa queria saber dançar aprender a tocar instrumento toco piano desde criança Pedro mas aqui não tem senão lhe ensinava

Lições de dança, adolescência sem barreiras, liberdade. Apenas algumas semanas, nenhum beijo, nada. Inesquecível.


©Jade Dantas






Ancoradouro

Chega, seduz, atordoa. Faz tudo o mais perder o significado. O antes e o depois.
Não escolhe idade ou sexo. Nada protege do encantamento. Aparentemente alheios aos sobressaltos que ele traz, sentindo-se, talvez, invulneráveis, fortalecidos pela maturidade, aos mais velhos o grande amor é um renascimento. Para todos os que o experimentaram, a experiência fundamental, única, irreproduzível.
Por todo o tempo em que estiver vivendo em seu mergulho, vale vivê-lo. Vale a entrega, sabendo que o momento deveria ser congelado no seu tempo de ser, e que nenhuma experiência que lhe sobrevier, será passível de comparação ao seu gosto de ancoradouro e rio caudaloso onde se perder, sem remorso e sem retorno.

©Jade Dantas

OPÇÃO


SEM COVARDIA








mergulho




um dia abriu suas asas
afastou névoas do olhar
e apoiou-se nas nuvens

pôs os olhos nas estrelas
ergueu-se em pontas de pés
o coração disparado

as suas mãos misturando
as ternuras do luar
e a transparência da luz  

entregou-se por inteiro
ao convite da vida
além de estrelas e abismos

depois nas sombras da noite
o amor de asas quebradas
silêncio de pedra e sal

foi salva pela poesia
e enfeitiçada ainda canta
poemas nas madrugadas


© Jade Dantas

26.8.12

O RESTO É SILÊNCIO





o resto é silêncio



nos meus sentidos perdidos em brumas
no brilho das luzes que levo comigo
e que não findam

ressoa a melodia mágica
como fundo musical de um filme
na pureza do que é verdadeiro

mas não vingou em seu tempo de ser
se tudo que queríamos se desfez
se hoje te abrigas em bemóis

e me conjugo evanescente em sustenidos
na partitura de um piano oculto
tu segues o caminho escolhido

e fico a desejar - segue feliz
e nos teus olhos de bússola e estrelas
que nunca esqueças do quanto eu te quis



@Jade Dantas

CORTANTE



BOLERO


ANÍMÍCO





anímico


com a lua crescendo em beleza
tento domar minhas próprias estrelas
sabem dos voos no ontem
dançar dentro de espelhos
e da eterna paixão pelo mesmo homem


@Jade Dantas


17.8.12





débito


nosso amor
se deteve na anteporta

confiscaste o azul
quebraste todas as rotas

vou te colocar no SPC
ou dá-me a mim de volta


@Jade Dantas

E agora, vamos brincar um pouco fazendo um plágio de um célebre poema do grande Drummont. 
E se ele o escrevesse agora? Que tal imaginar?








Às vezes existe uma afinidade que surge sem ter porquê, com alguém que nunca havíamos encontrado, é verdadeira e todos já experimentamos. Não necessáriamente com alguém do sexo oposto, mas existe e é insatigante.
Como existem também outras pessoas que não suportamos, sem razão.
É disto que desejo falar no poema MILENAR.
Jade



milenar


por caminhos jamais experimentados
nos encontramos e nos amamos

só não sabíamos dos horizontes
e da trajetória do encontro milenar

mas ao chamado de vidas passadas
abrimos asas até então ignoradas

e seguimos a canção da eternidade
muito além das palavras


@Jade Dantas





E quando esta sensação surge com alguém do sexo oposto, onde nenhum dos dois consegue afastar o olhar, quando é intenso e não se pode fugir. 
Quando se tenta atender ao racional e é impossível fazê-lo. 
Nestes casos é melhor esquecer o racional porque não existem caminhos de volta.








asas ritmadas


                                      
das águas de ardências e volúpias
das tessituras de um instante único

onde o ontem e o amanhã
têm asas ritmadas

o amor me revelou
o seu canto desconhecido

e além das fronteiras dos sentidos
o instante aconteceu e foi eterno


©Jade Dantas